26 de junho de 2005

"Crash" por Nuno Reis

Até à semana passada se me pedissem para dizer quem é Paul Haggis com apenas um filme a resposta seria inevitavelmente “argumentista do “Million Dolar Baby””. Mas agora a resposta é diferente, pois escreveu, realizou e ainda compôs para “Crash” e este filme é simplesmente um dos melhores do ano.
Os Estados Unidos sempre se apresentaram como a terra das oportunidades, onde os sonhos de todos se tornam realidade. O melting pot em que as raças se cruzam é uma das características fundamentais do país, inicialmente eram os ingleses e os seus escravos negros, os chineses, os irlandeses, os judeus e os mexicanos foram surgindo. Actualmente a América é uma amálgama de povos fechados nas suas comunidades com medo de se encontrarem, um medo despoletado pelos ataques terroristas que lançaram o ódio sobre os árabes no geral - inclusive os que são de nacionalidade americana há mais de uma geração – e espalharam um medo com fundamentos mas irracional.
Esta história apresenta-nos americanos brancos, negros, latinos, asiáticos e do médio oriente. As suas profissões são as mais variadas, governadores, polícias, criminosos, realizadores, lojistas, há de quase tudo. Essas pessoas além disso ainda são maridos, esposas, filhos, filhas, pais, mães e irmãos que nos tempos livres cuidam da família. E todas essas pessoas com problemas correm um enorme risco de terem o futuro destruído por serem acusados de racismo, algo que evitam e de que são vítimas. Novamente o medo escondido.
Todas as personagens revelam ser algo diferente do que a primeira impressão mostra, provam que os estereótipos são errados, cada ideia preconcebida sobre eles pode estar errada pois são indivíduos, não seguem os exemplos daqueles que dão a má fama aos demais.
O filme atinge os seus objectivos por nos apresentar pessoas perfeitamente normais, cada um de nós poderia ter uma daquelas profissões, cada um de nós poderia ter alguém assim na família, cada um de nós poderia ter um problema semelhante, cada um de nós...
A história resume-se a alguns dias, duas noites bastam para que tudo aconteça. A linha temporal é contínua mas vai mostrando diferentes pontos de vista sobre o país, a vista dos ricos e a dos pobres, a dos oprimidos e a sociedade opressora que é composta por cada um deles. Há pouco fiz uma comparação, este filme é um cruzamento de “The 25th Hour” com “Magnolia”, através do indivíduo mostra como o 11 de Setembro destruiu a vida das pessoas, através das vidas cruzadas mostra a simplicidade da vida, os sonhos de cada um podem ser desfeitos na terra dos sonhos, só os milagres podem salvar vidas.
É daqueles filmes capazes de prender o espectador, de o fazer torcer pelo que é justo, de o fazer vibrar, de o fazer sofrer e de o fazer desejar que as fadas existam.
Com um elenco de luxo composto por estrelas de Hollywood e vários dos secundários habituais, um argumento genial e uma moral que não deverá ser esquecida, este é um dos títulos a não perder de 2005.






Título Original: "Crash" (EUA, 2004)
Realizador: Paul Haggis
Intérpretes: Don Cheadle, Jennifer Esposito, Sandra Bullock, Brendan Fraser, Matt Dillon, Ryan Phillipe, Thandie Newton, Terence Howard, William Fichtner, Ludacris
Argumento: Paul Haggis e Robert Morisco
Fotografia: James Muro
Música:Mark Isham, Kathleen York
Género: Drama /Thriller
Duração: 113 min
Sítio Oficial: http://www.crashfilm.com/

1 comentários:

MPB disse...

É um filme excepcional.
Um filme que filma pessoas não personagens.

Cumprimentos

http://rollcamera.blogspot.com