18 de maio de 2012

Cannes – uma vila como todas as outras


Quem acompanha este blog sabe que este ano a viagem a Cannes foi um pouco diferente. Vim sozinho e isso obrigou-me a fazer contas de forma mais controlada. Dando continuidade ao manual de sobrevivência para Cannes que foi publicado há uns aninhos, fica agora uma nova versão um pouco mais realista.

Alojamento


Há pessoas que alugam quartos e apartamentos pelo preço que for pedido sem hesitar porque arranjar dormida em Cannes é difícil e caro. Depois há os espertos que esperam pela última semana e pelas promoções e se arriscam a ter uma surpresa. E finalmente há os pelintras que se vão afastando do centro de Cannes em busca de um pousio com custo aceitável. Acabei num hotel a 8 km de distância, a pagar menos de metade do que me pediam por um apartamento a 2km, que por sua vez era igual ao que paguei o ano passado por um apartamento a 400 metros. Com o autocarro 200 à porta parecia um bom negócio.

Transporte


Tendo o voo chegado ao final da manhã, só ao início da tarde experimentei os transportes públicos de Cannes. Ao fim de meia hora sozinho na paragem e a ver passar três autocarros 200 no sentido oposto comecei a preocupar-me. Quando apareceu outro passageiro fiquei mais confortável. E quando chegou o 200, tão cheio que nem abriu a porta, fazendo sinal que vinha outro atrás, pareceu-me ter um flashback (ou em francês um dejá vu) dos autocarros do Porto. O segundo vinha mais vazio e confirmou-se o mito de viagens a um euro. Isto ia ser divertido.
Na viagem de regresso e em todas as viagens a partir daí era sempre hora de ponta, autocarro apinhado e fiquei satisfeito por não ficar num hotel luxuoso com ginásio. Porque afinal de contas, quem anda de autocarro como sardinhas em lata não precisa de mais exercício: tem corrida em sprint para o apanhar, tem torção para conseguir entrar, tem exercícios constantes de força de braços e flexibilidade para se segurar, tem controlo da respiração pois tanto sovaco levantado obriga a ser muito cuidadoso com esse detalhe e, se tiver sorte, tem nova sessão de agilidade para conseguir chega à porta de saída onde se arrisca a um pouco de caminhada pois independentemente da paragem pretendida e da antecedência com que se preparam para sair, normalmente só se consegue sair uma depois.
Uma vantagem é o multi-culturalismo pois nestes autocarros apinhados ouve-se uma panóplia de línguas a fluírem naturalmente. Depois de no mercado se ouvir meio mundo a falar a língua de outro meio (até agora preferi os sotaques de brasileiros a falar espanhol e de portugueses e italianos a falar francês) sabe muito bem ouvir cada um como realmente é.

Festas


De noite os autocarros são mais raros pelo que convém pensar bem se justifica ficar para uma festa. A maioria dos stands faz festas à hora de almoço pelo que as diversões nocturnas se tornam desnecessárias. Mas se tiver de ser, uma caminhada nocturna é sempre refrescante e ouvi relatos de pessoas que a fizeram. Devido ao álcool não sabem por onde foram nem como lá chegaram, mas conseguiram.
Nos primeiros dias as festas eram muito privadas, mas ultimamente têm aparecido anúncios para as de acesso livre o que promete animar as próximas noites.

Representação nacional


Se tencionam encontrar alguém do vosso país o local lógico para ir é o pavilhão do país ou os stands das empresas nacionais. Surpresa número um: nos stands nem sempre têm alguém do país. Já fui atendido por brasileiras em balcões da Áustria e da Alemanha. No único stand de uma empresa nacional sei que só há uma portuguesa, mas ainda não falamos. Surpresa número dois: se forem de Portugal podem não ter pavilhão do país. No ano passado o ICA esquivou-se à responsabilidade e teve de ser a Associação de Produtores de Cinema a avançar com o capital. Enquanto isso o Instituto do Vinho do Porto organizava grandes festas em hotéis para dar a conhecer a nossa riqueza. A sorte é que países próximos como Brasil e Espanha têm das maiores representações no certame pelo que não notamos a falta de apoio governamental. Cada um de nós tem de actuar como embaixador de Portugal (pessoalmente acho que faço melhor serviço do que as entidades responsáveis por tal, por isso ficamos melhor assim).
Quanto a portugueses por cá em trabalho, já vi 3 e há mais. Não é nada comparado com outros anos. Devido à actual situação caótica do ICA não esperava nada grandioso como Espanha, Brasil e as potências asiáticas, mas Cannes é uma oportunidade única e nota-se que há quem o perceba e quem não queira perceber.


Olhando para as coisas assim, Cannes até parece um sítio normal para umas férias.

1 comentários:

Rita Santos disse...

É realmente uma outra visão das coisas.