7 de setembro de 2012

Como o cinema nacional reconquistou espectadores

Se nos basearmos nos dados do ICA e formos ver o top 20 dos filmes nacionais mais vistos desde 2004, não haverá muitas surpresas. O surpreendente é ver esta lista a ter mexida como não se via há muito tempo.

Em 2011 "Complexo Universo Paralelo" chegou a 27º e "Sangue do Meu Sangue" a 24º. Um ano deveras fraco para as bilheteiras.
Em 2010 foi melhor com o 7º lugar de "A Bela e o Paparazzo" e o 9º de "Contraluz" e uma média acima dos 90000 bilhetes a que se poderiam juntar os quase 30000 bilhetes de "Filme do Desassossego" e de "José e Pilar". Em 2009 quatro das estreias posicionaram-se entre o 6º e o 12º lugar com uma média de 75000 espectadores.

Tudo vai mudar e vamos sentir nos números. Não são os quase 12000 espectadores de "Assim Assim" ou os 20000 de "Tabu" ou os 30000 de "Cosmópolis" e os 40000 de "Florbela" que fazem mossa, mas sim os 130000 de "Morangos com Açúcar" numa semana e os outros tantos milhares que se esperam na estreia de "Balas e Bolinhos - o Último Capítulo". O ano em curso vai ter quatro filmes no top 20 - cinco se "Linhas de Wellington" superar as críticas iniciais - e provavelmente terá dois no top 5.

Já sabíamos que o sexo vende. Três dos quatro primeiros na lista provam-no.
Achamos que literatura vendia, mas nem na ficção ("O Mistério da Estrada de Sintra", 30000), nem no documentário ("José e Pilar", 26600), nem sequer no biopic ("Florbela", 40700) os nossos autores conseguiram números fabulosos. Sabemos que a adaptação de Eça não está em primeiro pela fiel transposição e a coincidência de "Uma Aventura na Casa Assombrada" ter chegado à tela quando uma das autoras era Ministra também deve ter tido mais peso no seu sucesso que a fama da obra.
Ter realizadores convidados tambem seria uma boa ideia se os resultados de Ruiz, Saura e Cronenberg não fossem uma desilusão. Claro que "Comboio Nocturno para Lisboa" vai provar que ainda se pode pensar assim, mas até lá foram os autores nacionais os principais contribuidores para o nosso cinema.

O que é então necessário para ter um sucesso de bilheteiras nas mãos? Pelos vistos basta ter um produto sem ambições de conquistar prémios, sem perspectivas de vender ao estrangeiro, mas vocacionado para o público e feito a pensar nele. Ajuda muito se for de encontro a uma necessidade premente do público que, mesmo não sabendo, esperou uma década para ver esse trabalho.
Agora se o querem fazer em três anos ou em dois meses é um mero detalhe ao gosto de cada um.

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